Seminário

Grafismo © Harry Luís
Coordenação: Ana Salgueiro (CECC.UCP; UMa-CIERL; PNC-ESFF) e Rui Guilherme (CLP-UC; UMa-CIERL; PNC-EBSLMSD, com a colaboração de Pedro Pão (Screenings Funchal)

Programa formativo Em Legítima Defesa | NIT/ UMa-Cierl

Encontros de Cinema Português Manuel Luiz Vieira

Plano Nacional de Cinema | Escola Secundária de Francisco Franco

 Programa  aqui
Validação pela DRE – 26h de formação
Formulário de inscrição aqui
Inscrição para docentes com validação pela DRE – Plataforma Interagir aqui

Caderno de resumos 1 (28 e 29 de junho 2019) aqui

Caderno de resumos 2 (5 e 6 de julho 2019) aqui

Taxas de inscrição : 30 €   (estudantes terão desconto de 50%, mediante apresentação de comprovativo de matrícula no ano letivo de 2018/2019)

28 e 29 de junho de 2019
Escola Secundária de Francisco Franco, Casa-Museu Frederico de Freitas, MUDAS. Museu de Arte Contemporânea da Madeira, Screenings Funchal
5, 6 e 7 de julho de 2019
Casa-Museu Frederico de Freitas, Universidade da Madeira,  Screenings Funchal, Casa da Cultura de Santa Cruz/Quinta do Revoredo
13 de julho de 2019
Universidade da Madeira
SINOPSE
Em 2016, o núcleo de investigação Tratuário. Percursos para a História da Cultura Madeirense, integrado no Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais da Universidade da Madeira (UMa-CIERL), dava início ao programa formativo e de divulgação cultural Em Legítima defesa, com o objetivo de promover a formação de docentes, de alunos de diversos graus de ensino e de outros quadros institucionais da Região Autónoma da Madeira, nas áreas dos Estudos de Cultura, dos Estudos Literários, dos Estudos Artísticos, da História e do Património. Este programa formativo, cujo título toma de empréstimo, não por acaso, palavras do poema “Ofício de Cantar” de José de Sainz-Trueva, orienta-se prioritariamente para a divulgação e o estudo do sistema cultural madeirense, o qual, porém, se perspetiva sempre em articulação com outros sistemas culturais nacionais e internacionais.
Com o subtítulo Encontros com poesia, música e outras artes na Madeira, essa 1.ª edição do Programa Formativo Em Legítima defesa assumiu, desde logo, um perfil interdisciplinar e interinstitucional, embora tendo privilegiado (conforme indicação no subtítulo) as áreas da Poesia e da Música.
No ano letivo de 2018/2019, retoma-se o Programa Formativo Em Legítima defesa, agora integrado no projeto interinstitucional Encontros de Cinema Português Manuel Luiz Vieira (ECP-MLV) e em articulação com escolas que, na RAM, implementam o Plano Nacional de Cinema (PNC). Entre outras atividades desenvolvidas, a segunda edição do Programa Formativo Em Legítima defesa, agora com o subtítulo encontros com Literatura, Cinema e outras Artes na Madeira, promoverá o seminário Literatura & Cinema, mantendo a dinâmica interinstitucional e interdisciplinar da 1.ª edição, embora alargando, agora, o seu enfoque a outras manifestações literárias que não exclusivamente a poesia e recentrando a sua atenção também no fenómeno cinematográfico e na articulação/implicação detetável entre literatura, cinema e entre estas e outras artes.
Este novo enquadramento decorre de vários fatores:
  1. a adesão a um conceito alargado de cultura, que entende os discursos e os fenómenos artísticos das várias áreas de criação como partes integrantes de um polissistema e cuja literacia, embora exigindo formação específica consoante as linguagens utilizadas, ganha em dinamismo e eficiência, se for promovida de forma complementar, cruzando práticas de leitura e de criação em diversas áreas e em distintos contextos;
  2. a evidência do desconhecimento, por parte das comunidades insulares (incluindo-se nestas também as comunidades educativas), do sistema cultural madeirense (nomeadamente nas áreas da Literatura, do Cinema e das Artes Plásticas) e da sua implicação em outros sistemas culturais;
  3. o reconhecimento da relevância cultural que o cinema (e mais recentemente a criação multimédia, não circunscrita ao cinema) assume no sistema cultural madeirense, quer no Passado (de que o pioneirismo de Manuel Luiz Vieira é apenas um exemplo), quer no Presente (cf. o crescente número de festivais e eventos de cinema e multimédia promovidos na Madeira, nos últimos anos);
  4. a implementação em Portugal (mas com residual adesão na Madeira), desde o ano letivo de 2014/2015, do Plano Nacional de Cinema, orientado pelos objetivos de: “formar os públicos escolares de modo a garantir-lhes os instrumentos básicos de «leitura» e compreensão de obras cinematográficas e audiovisuais, despertando-lhes o prazer para o hábito de ver cinema ao longo da vida”; e “valorizar o cinema enquanto arte junto das escolas e da restante comunidade educativa”.
Assim, o Seminário Literatura & Cinema apresenta-se como uma das atividades de formação e divulgação cultural integradas no Programa Formativo Em Legítima defesa. Encontros com Literatura, Cinema e outras Artes na Madeira e no projeto Encontros de Cinema Português Manuel Luiz Vieira. Nesse quadro interinstitucional, orienta-se para a promoção do diálogo entre a Academia e diversos parceiros locais, nacionais e estrangeiros, procurando apoiar a dinamização do Plano Nacional de Cinema junto das comunidades educativas das escolas da região.
Mobilizando o cruzamento dos Estudos Literários, com os Estudos Fílmicos, os Estudos de Cultura, os Estudos Regionais e Locais e a Didática,o Seminário Literatura & Cinema dará particular atenção a processos de deslocalização e  transferência ou metamorfose, reescrita e intermedialidade entre o literário e o fílmico ou entre estas e outras formas artísticas. Deste modo, seguirá a proposta de Jean Cléder (2013), quando este especialista em Literatura e Cinema defende a indisciplina transdisciplinar, como princípio metodológico fundamental para o conhecimento e a dinamização dos sistemas culturais.
Discutir-se-ão questões como: (i) Que lugar ocupa/ocupou o cinema (nas suas múltiplas vertentes de criação, receção e circulação) nas sociedades contemporâneas? (ii) Que lugar ocupa/ocupou o cinema da Madeira (filmes, cineastas, atores, produtores…) em outros sistemas culturais mais alargados? (iii) De que modo literatura e cinema se cruzam/cruzaram entre si ou com outras artes quer no sistema cultural insular, quer em outros sistemas culturais? (iv) até que ponto abordagens intersemióticas têm sido desenvolvidas ou revelam ser pertinentes para a leitura de fenómenos culturais que se encontram marcados pelo hibridismo discursivo, pela transgressão entre diferentes media, pela reflexão/refração de imagens ou até pela reciclagem/reapropriação de processos e produtos criativos? E (v) que papel e protagonismo assumem as imagens verbais e cinematográficas da Madeira (e em particular do Funchal) no desenho do seu imaginário insular e na construção da sua narrativa identitária.

 

ORADORES/FORMADORES & RESUMOS DAS VÁRIAS INTERVENÇÕES

CONFERÊNCIAS DE ABERTURA E DE ENCERRAMENTO

ANA ISABEL SOARES
Universidade do Algarve |  Centro de Investigação em Artes e Comunicação
Doutorada em Teoria da Literatura pela Universidade de Lisboa e Professora Auxiliar na Universidade do Algarve, onde tem tido a cargo aulas nas áreas de Literatura Inglesa, Teoria da Literatura, Literatura e Cinema, História do Cinema, Teoria da Imagem e Estudos Culturais. Fez pós-doutoramento sobre Poesia e Cinema Documental Português na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (entre 2009 e 2010). É membro integrado do CIAC-Centro de Investigação em Artes e Comunicação. Foi uma das fundadoras e a primeira presidente da AIM-Associação dos Investigadores da Imagem em Movimento. Tem publicado artigos e orientado seminários em várias universidades sobre literatura portuguesa, principalmente poesia contemporânea e cinema português. Traduz e escreve poesia, além das crónicas do “Reboliço”. Em 2013, foi publicada a tradução que, com Merja de Mattos-Parreira, fez do poema épico finlandês Kalevala.
CONFERÊNCIA DE ABERTURA | ESCOLA SECUNDÁRIA DE FRANCISCO FRANCO | 28.06.2019 | 18:30

DA ‘CÓMODA ALTA’ AO ÉCRAN DE CINEMA: AS PERSONAE DE PESSOA

Resumo: O filme Conversa Acabada (João Botelho, 1981), consistiu, segundo o seu realizador, na “tentativa de um filme poético” resolvida em “drama poético” que, em várias entrevistas, Botelho aproxima quer de um “espectáculo de circo”, quer de “banda desenhada”. Dez anos depois de Conversa Acabada, José Sasportes escreveu um guião a partir do qual Margarida Gil realiza para a RTP Daisy – Um Filme para Fernando Pessoa. A esse projeto em dois episódios televisivos chama a realizadora “cinema dentro da televisão”, ou uma tentativa de “divertimento musical”. Em 1994, Gil regressa a Pessoa para dirigir Luz Incerta, que resultou de uma encomenda de Lisboa 94 – Capital Europeia da Cultura. O filme centra-se na cidade que mais profundamente Fernando Pessoa explorou, por via ortónima e heterónima. A “luz incerta” do título é, nos versos do poeta, a da “suprema verdade”. Margarida Gil procura recuperar uma “verdade dramática”, porventura a mais suprema verdade, e é nessa busca que encena vozes múltiplas, cruza textos de origens diferentes e investe numa produção materialmente densa, plástica, que, uma vez mais, sublinha o artifício da construção, pondo ao mesmo tempo visualmente em marcha o processo verbal que Pessoa tão sublimemente manejou.
A mesma Lisboa sobre a qual tanto escreveram Bernardo Soares, Fernando Pessoa, ou Álvaro de Campos, e a partir de que Margarida Gil construiu Daisy… e Luz Incerta (e Botelho a “conversa” entre Pessoa e Mário de Sá-Carneiro) é revisitada por Edgar Pêra em 2014, no filme cujo título precisamente recupera o de um poema de Campos, Lisbon Revisited. Obra em 3D, o filme completa-se com exposição fotográfica, performance, e remissão a um dos mais importantes álbuns fotográficos sobre a cidade (o de Vítor Palla e Costa Martins). Em cada uma destas obras, a produção pessoana (que ora integra, ora não, a persona mesma do poeta) ganha materializações diferentes, mais ou menos aproximadas entre si. De que modo se opera a transfiguração do ser verbal em ser visual, assumindo-se ambas as criações como resultado do processo primeiro de invenção poética? Ao logocêntrico “drama em gente” parecem corresponder encarnações visuais cujo suporte começa por um afastamentos do naturalismo cinematográfico.

ALEXANDRA LOPES
Universidade Católica Portuguesa | Centro de Estudos de Comunicação e  Cultura
Doutorada em Estudos de Tradução pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, onde é Professora Associada e Coordenadora da Área Científica de Estudos de Cultura. É investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura, onde coordena a linha Literature and the Global Contemporary. Publicou muitos artigos em volumes nacionais e internacionais. Coeditou três volumes: The Age of Translation. Early 20th-century Concepts and Debates (Peter Lang, 2017); Mediations of Disruption in Post-Conflict Cinema (Palgrave, 2016), Deste Lado do Espelho. Estudos de Tradução em Portugal – Novos Contributos para a História da Literatura Portuguesa (Universidade Católica Editora, 2002). Ainda em 2019 sairão dois volumes na Universidade Católica Editora, também em coedição: Mudam-se os tempos, mudam-se as traduções? Reflexões sobre os vínculos entre (r)evolução e tradução (com Maria Lin Moniz) e Translation and Exoticism. Inventing the other in literature (com Marie-Hélène Torres). É diretora‑adjunta da Faculdade de Ciências Humanas desde 2016.
CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO |  UMa, Sala de Sessões Campus  da Penteada | 06.07.2019 | 17:00
«EU GOSTEI MAIS DO LIVRO» – NOTAS BREVES SOBRE (IN)TRADUZIBILIDADE & LITERATURA NO CINEMA
Resumo: Partindo da reflexão sobre tradução intersemiótica que vem sendo feita no campo dos Estudos de Tradução, procurarei interrogar lugares-comuns na apreciação da transposição de literatura para o cinema, desestabilizando conceitos [‘tradução intersemiótica’, ‘fidelidade’, ‘equivalência’, ‘adaptação’, etc.] e pressupostos, com o propósito de pôr em evidência que, radicando a tradução – qualquer tradução – numa leitura do texto e fazendo parte do sistema circulatório da literatura, ela jamais poderia ser invisível ou impoluta, i.e., equivaler [≈ ter igual valor] ao texto de que parte.
Baseando-me em exemplos de diversos filmes nacionais e estrangeiros, procurarei discutir os modos como as ‘adaptações’ fílmicas de obras literárias constituem lugares interpretativos que, longe de constituírem ‘traições’ aos textos, põem a descoberto potencialidades de leitura que aqueles prevêem, no sentido que lhe dá Umberto Eco em ‘Lector in Fabula’.
Além da perspetiva teórico-conceptual dos Estudos de Tradução, farei uso das propostas da Estética da Receção, a fim de tentar iluminar as complexidades, as (im)possibilidades, as ‘perdas’ e os ‘ganhos’ de ‘traduzir’ literatura para cinema.

SESSÕES FÍLMICAS E COM COMUNICAÇÕES + WORKSHOP

 

PROJEÇÃO FÍLMICA  |  SESSÃO II _ CINEMA-LITERATURA E MUNDO(S) EM REVIS(ITAÇ)ÃO
Casa-Museu Frederico de Freitas,  Auditório  |  21:00 | 28.06.2019

A CORTE DO NORTE

João Botelho, 2008 (120′)
Sinopse: Esta é a história de Emília de Sousa, a maior actriz que o teatro português conheceu nos finais do séc. XIX, que abandonou por uns anos a carreira para se casar com o rico madeirense Gaspar de Barros e transformar-se na Baronesa Madalena do Mar. Tão bela quanto Sissi, a Imperatriz da Áustria, com quem conviveu no Inverno de 1860/61 decidiu construir um mistério que perdurou por quatro gerações e por mais de um século. Que nos interessa que um senhor qualquer se deite com uma mulher? Mas quando alguém se atirava ao mar, isso levanta variadas hipóteses. Será isto ainda amor, ou só o gesto envergonhado do sublime?
+ info. em CINEPT, da UBI, aqui

 

29.06.2019   |   09:30 – 11:15  MUDAS. Museu de Arte Contemporânea da Madeira  
SESSÃO III. EDUCAÇÃO (LITERÁRIA) E CINEMA 
 
RUI GUILHERME SILVA
Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra; Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais da Universidade da Madeira; Plano Nacional de Cinema – Escola Básica e Secundária Dr. Luís Maulílio da Silva Dantas
Nasceu em Torres Novas, em 1970. É professor de Português no ensino básico e secundário. Doutorou-se em Literatura de Língua Portuguesa (pela Universidade de Coimbra) com uma tese sobre João Vário, Arménio Vieira e José Luiz Tavares. É membro efetivo do Centro de Literatura Portuguesa da FLUC e membro colaborador do Centro de Estudos Regionais e Locais da UMa. É autor de ensaios sobre as literaturas de língua portuguesa e tem participado em encontros académicos dedicados às Humanidades. Tem em preparação um programa individual de investigação sobre “Educação Literária e Cinema no Ensino Secundário”.

 

JOÃO BOTELHO – UM PROJETO DE EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Resumo: A relação da obra de João Botelho com o cânone literário português assumiu, nos últimos anos, o carácter de ‘projeto de educação (popular)’ para o cinema e para literatura. Esta sessão pretende discutir o uso dos filmes Conversa acabada (1981), Quem és tu? (2001), Filme do Desassossego (2010) e Os Maias (2014) nas aulas de Português do ensino secundário. A partir da inscrição do estudo da literatura no campo da educação artística (ou interartística), propõe-se um tipo de análise que 1) destaque a natureza interpretativa da adaptação fílmica, 2) estimule o estabelecimento de relações não-narrativas entre texto e filme e 3) releve a especificidade da linguagem literária e da linguagem cinematográfica.
JOÃO PINTO
Centro de Investigação em Artes e Comunicação da Universidade do Algarve, Laboratório de Educação à Distância e Elearning da Universidade Aberta
Investigador colaborador do Laboratório de Educação à Distância e Elearning (LE@D), Universidade Aberta, e do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC), Universidade do Algarve, onde realiza investigação em Cinema, Educação e Redes sociais. Doutorando em Média-Arte Digital pela Universidade Aberta/Universidade do Algarve, mestre em Ciências da Educação – especialidade em Pedagogia do eLearning e licenciado em Educação – minor em Pedagogia Social e da Formação. + Info em: www.joaopinto.net
EDUCAÇÃO, CINEMA E REDES SOCIAIS: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE O PLANO NACIONAL DE CINEMA

Resumo: A intervenção apresenta uma investigação em curso que tem por objeto a iniciativa governamental Plano Nacional de Cinema (PNC) e, por fundamentos enquadradores, as noções da educação aberta e os audiovisuais, pensada sob a tríade teórica Educação/Cinema/Redes Sociais. A revolução tecnológica fez emergir uma sociedade em rede, nas quais as pessoas se vêem como cidadãos ativos, construtores da inteligência coletiva, e não apenas consumidores passivos de uma cultura criada pelos outros. O cinema, enquanto arte-audiovisual, sempre assumiu um papel educacional na sociedade, mas encontra agora novas possibilidades e caminhos para intervir, contando com públicos participativos, que podem ser produtores de conteúdos audiovisuais no seu quotidiano. Neste sentido, partindo do contexto dos estilos de vida digitais da atual sociedade, a  educação para o cinema, além de almejar a preparação do indivíduo para saber interpretar e compreender o cinema, pode contribuir igualmente para prepará-lo para ser melhor consumidor/produtor/construtor na perspetiva de uma cidadania mais plena. Estas novas formas de viver o cinema têm influência nas atividades desenvolvidas pelo PNC e reforçam os seus objetivos educacionais.
29.06.2019   |   11:45 | 13:30  MUDAS. Museu de Arte Contemporânea da Madeira  
SESSÃO IV. O FUNCHAL E A MADEIRA COMO ESPAÇOS LITERÁRIOS E/OU CINEMATOGRÁFICOS 
CARLOS VALENTE
Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes da Universidade de Lisboa; Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais da Universidade da Madeira; 
É Professor Auxiliar na Universidade da Madeira (UMa), onde coordena o Departamento de Arte Design. Leciona nas áreas de Estética e História da Arte. Possui Doutoramento em Estudos de Arte – com especialização em Teorias e Tecnologias da Imagem (2007). Possui também Mestrado em História – especialização em História da Arte (1999). Tem vindo a fazer investigação no campo da História das Artes Visuais na Madeira, nomeadamente estudos sobre a representação da paisagem madeirense na pintura, fotografia e cinema. É membro do CIEBA, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e do CIERL, Universidade da Madeira. No presente encontra-se a realizar um pós-doutoramento no campo da estética, investigado acerca do estatuto desta disciplina no ensino superior português. Mantém uma prática artística continuada desde 1987, e tem organizado colóquios, encontros, exposições e debates. É presidente da comissão organizadora do Encontro Internacional Cinema e Território, que terá a sua quinta edição, no Funchal, em 2019.
DUAS ILHAS, DOIS FILMES – OU A PAISAGEM DA RECLUSÃO

Resumo: Nesta comunicação pretende-se debater a potencialidade expressiva da paisagem insular enquanto objeto fílmico. A geografia madeirense, aqui desdobrada em dois filmes, pressupõe uma insularidade balizada pela linha costeira, onde a terra se submerge e predomina a vastidão do mar.  O objeto desta análise reside na comparação de duas obras audiovisuais realizadas na Madeira, separadas por quase 50 anos: um filme de longa-metragem (As ilhas encantadas, de Carlos Vilardebó, 1966), rodado no Porto Santo e uma curta-metragem em vídeo, (Insula, de Vasco Araújo, 2010), rodada na Madeira. Em ambos encontramos uma paisagem demarcada pela fluidez oceânica; e em ambos a narrativa do naufrágio: consumado num dos filmes e eminente no outro.
Cada filme, do seu modo, explora a impotência do ser humano perante o misto, paradoxal, de imensidão e clausura que o rodeia. Concordamos com John Wylei, quando questiona o poder da representação cinemática, enquanto potenciadora da “embeddedness and interconnectivity of self, body, knowledge and land” (Wylie, 2007: 2). Este pressuposto teórico situa a paisagem insular numa construção fílmica do imaginário, que nos dá a ver o sujeito, isolado num espaço inóspito. A ilha assume, nos filmes aqui abordados, o estatuto de lugar-nenhum, ao serviço de uma reflexão cinematográfica acerca da condição humana.
ANA PAULA ALMEIDA
Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais da Universidade da Madeira; Casa-Museu Frederico de Freitas
Licenciada em História e Ciências Sociais pela Universidade do Minho. Mestre em Arte e Património pela Universidade da Madeira com apresentação da Dissertação Lugares e Pessoas do Cinema na Madeira – Apontamento para a História do Cinema na Madeira de 1897 a 1930. É membro colaborador do CIERL – Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais (Universidade da Madeira). Leciona desde o ano letivo de 1993 / 94, tendo desempenhado a função docente em diversas escolas da RAM. É professora do Quadro de Escola da Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos da Torre, Câmara de Lobos. Exerce funções de natureza técnico-pedagógica nos Serviços Educativos da Casa – Museu Frederico de Freitas (DRC).

A MADEIRA COMO ESPAÇO CINEMATOGRÁFICO

Resumo: A Madeira foi, curiosamente, desde muito cedo um espaço cinematográfico. Os primeiros filmes realizados na Ilha (por locais, nacionais e estrangeiros), à semelhança do resto da Europa, foram registos documentais e estão normalmente relacionados com a Madeira enquanto atração turística. Os estrangeiros, em férias ou de passagem breve, fizeram filmagens da Ilha e da sua gente. Nestas películas, a Madeira é vista como uma Ilha paradisíaca, destacando-se, por exemplo, a beleza da paisagem e o clima ameno ou, contrariamente, com um olhar crítico, referindo-se a pobreza, o isolamento e o subdesenvolvimento.
Às primeiras produtoras inteiramente regionais, a Madeira Film (1922) e a Empresa Cinegráfica Atlântida (1924), esteve associado o nome de Manuel Luiz Vieira. Estas produziram diferentes tipos de fitas: filmes de reportagem, películas sobre os costumes e vistas da Ilha e média-metragens de enredo.
29.06.2019   |  14:30 | 16:30 MUDAS. Museu de Arte Contemporânea da Madeira  
SESSÃO V. PALAVRAS E IMAGENS  
ELISABETE MARQUES
Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa – Universidade do Porto
É doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com uma dissertação sobre Maurice Blanchot e Samuel Beckett. Actualmente, é investigadora no Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa (Faculdade de Letras da Universidade do Porto), onde está a desenvolver um projecto sobre as relações entre Literatura e Cinema. É co-editora do livro Estética e Política entre as artes (Edições 70). Faz parte das equipas das revistas Textos e Pretextos e Esc:ala. Foi co-organizadora do seminário Escrita e Imagem (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) e curadora do ciclo O Cinema e as outras artes (Teatro do Campo Alegre, Porto).
QUESTÕES SOBRE A ADAPTAÇÃO (análise de DOMINGO À TARDE, de ANTÓNIO MACEDO)

Resumo: Domingo à tarde (1966), de António Macedo, filme emblemático do cinema novo, é a adaptação do romance homónimo de Fernando Namora (1961). No documentário “Memórias de um Domingo à tarde”, o realizador explica que teve de arranjar estratégias para reinventar o texto, na sua opinião demasiado marcado pelo neo-realismo e suas retóricas. Daí que o filme exponha um conjunto de artifícios através dos quais simultaneamente acata e recusa a obra literária. Como, por exemplo, o recurso à voz off pela qual Macedo mantém a narrativa feita na primeira pessoa e desconstrói a sequencialidade temporal do livro; ou a exibição das imagens de volumes anatómicos e de radiografias através da qual o filme remete para o universo hospitalar da novela e consente a reflexão sobre os limites do visível. Assim sendo, analisar-se-á a forma como Macedo reinventa a história de Namora para acentuar os dispositivos cinematográficos e, assim, problematizar a questão da adaptação.

cartaz da exposição © MUDAS
VISITA GUIADA À EXPOSIÇÃO ESTE POEMA de TERESA JARDIM com a presença da artista
[Galeria do MUDAS. Museu de Arte Contemporânea da Madeira]
Sinopse: este poema é o novo projeto de Teresa Jardim exposto na Galeria do MUDAS. Museu de Arte Contemporânea da Madeira. Esta exposição, nas palavras da autora, desenvolve-se em torno da poesia concretizada em imagens e objetos, convocando também a paisagem interior, a memória e a insularidade portátil do corpo.
Teresa Jardim propõe uma revisitação do projeto desenvolvido em 2011 no então MACFunchal, Alguns poemas dispersos e uma parede só para mim, procurando dar continuidade ao diálogo poético-visivo iniciado à data e apresentando-se nesta exposição com uma proposta estética-poeta em campo expandido.
TERESA JARDIM nasceu e vive no Funchal, Ilha da Madeira. É Licenciada em Artes Plásticas/Pintura e em Design de Projectação Gráfica, pelo ISAPM e ISAD/Universidade da Madeira. Leccionou em diferentes graus de ensino, no âmbito das Artes Visuais. Actualmente lecciona Desenho e Oficina de Artes na Escola na Secundária Francisco Franco. Desenvolve trabalho criativo e de pesquisa no domínio das artes plásticas e da poesia. Exposições individuais a destacar: 1984 – porque te amo, Galeria do ISAPM, Funchal; 1997 – Jogos de Adivinhação, Galeria da SRTC, Funchal; 2001 – eu vivo aqui, Galeria da SRTC, Funchal; 2011 – Alguns poemas dispersos e uma parede só para mim, Museu de Arte Contemporânea do Funchal. Vem desenvolvendo parcerias curatoriais e participou em mais de meia centena de exposições coletivas. Em poesia [Teresa M. G. Jardim], publicou Anjos de Areia (DRAC, 1993) e Jogos Radicais, (Assírio & Alvim, 2010). Colaborou com o DN JovemDiário de Notícias de Lisboa, nos anos 80 do séc. XX, e integrou o Anuário de poesia da Assírio & Alvim (1986). Colaborou em fanzines, jornais e revistas. Faz parte de Cadernos Santiago I (2016) e Telhados de Vidro (ed. Averno).
29.06.2019   |  17:00 | 18:30 MUDAS. Museu de Arte Contemporânea da Madeira  
SESSÃO VI _  CINEMA-LITERATURA EM MOVIMENTO TRANSGRESSIVO 
EDGAR PÊRA
Cineasta português, cuja obra tem início nos 1980, contemplando hoje mais de uma centena de trabalhos para cinema, tv, net, espectáculos, galerias, eventos e outros media. Autor de A Cidade de Cassiano, que lhe valeu o Grand Prix Films D’architecture, em 1991), realiza a sua primeira longa-metragem em 1994, Manual de Evasão LX 94 (Lisboa Capital da Cultura), onde articula uma estética herdada do cinema mudo cine-cosmopolita e um modo de captação instantânea da realidade. Pêra retrata temas como o Trabalho, o Tempo, a Liberdade, a Realidade e a Alienação. Debruçando-se sobre a vida e/ou a obra de pensadores e artistas como Agostinho da Silva, Alberto Pimenta, Almada Negreiros, Amadeo de Souza-Cardoso, António Pedro, Carlos Paredes, Dead Combo, Fernando Pessoa, H.P. Lovecraft, João Queiroz, Madredeus, Manuel João Vieira, Manuel Rodrigues, Maria Isabel Barreno, Miguel Esteves Cardoso, Paulo Varela Gomes, Pedro Ayres Magalhães, Rudy Rucker, Robert Anton Wilson, Souto Moura, Terence Mckenna…  [ler mais aqui]

 

Kino-Konferência  de  EDGAR PÊRA com moderação de  ANA ISABEL SOARES
Resumo: Pêra irá discorrer sobre a relação do seu cinema com a literatura, e em particular com a obra de Fernando Pessoa, tendo como ponto de partida  6 filmes seus que utilizam textos do poeta. Ao longo desta kino-konferência serão projetados e comentados excertos destes filmes realizados por Edgar Pêra. 

 

+ info. aqui

PROJEÇÃO FÍLMICA  Screenings Funchal |  SESSÃO VII _ CINEMA-LITERATURA E MUNDO(S) EM REVIS(ITAÇ)ÃO
Screenings Funchal | Cinemas NOS  Forum Madeira |  21:00 | 29.06.2019

LISBON REVISITED

Edgar Pêra, 2014 (66′)
trailer aqui
Sinopse: Lisbon Revisited é uma viagem onírica, vista através dos olhos espantados de um trans-humano e de uma kino-sinfonia de vozes dos inúmeros heterónimos de Fernando Pessoa. “Pensar é estar doente dos olhos”, disse Alberto Caeiro, o mais sensorial deles. «Lisbon Revisited» vive através desta doença, mostrando formas alternativas de ver (a cidade) e ouvir (Pessoa).
Tomando o título de empréstimo a um poema homónimo de Álvaro de Campos, Lisbon Revisited é, segundo o próprio realizador, “uma cine-liturgia e um kino-exorcismo de Lisboa”, celebrando o seu maior fantasma e confrontando a sua ambígua e difusa sexualidade
Filme-colagem tridimensional, segundo alguns críticos, Lisbon Revisited constrói uma absorvente e inquietante paisagem sonora de vozes produzidas em três línguas distintas (Português, Inglês e Francês – as três Línguas adotadas por Pessoa), fragmentos de texto, música pré-existente (Berlioz, Schumann, Mahler) e construções abstratas, o todo ilustrado por imagens de Lisboa manipuladas ao extremo. 
+ info. aqui
 SESSÃO XIII  | WORKSHOP DE INTRODUÇÃO AO CINEMA  orientado por PAU PASCUAL GALBIS
Campus Universitário da Penteada – UMa  [laboratório 3, Piso 3] |  16:00-20:00 |  05.07.2019     (data antecipada, relativamente ao programa provisório)
PAU PASCUAL GALBIS
Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais da Universidade da Madeira, Grupo de Investigação Cultura Urbana e Criação Audiovisual da Universidad de La Laguna,  The Research Institute for Design, Media and Culture ID+
Atual Diretor do Curso de Artes Visuais na Universidade da Madeira. Realizador e Professor Auxiliar de Arte e Meios Audiovisuais. Doutoramento em Artes Visuais e Intermédia na Universitat Politécnica de València (Espanha) e estudos de animação na Southampton Solent University (Reino Unido). Também lecionou em universidades no México e na Rep. Dominicana. O seu trabalho de investigação dirige-se principalmente ao aspeto primitivo da condição humana, existente no vídeo musical de vanguarda, cinema e animação de autor. Diretor de numerosas produções independentes dirigidas à experimentação, e de documentários de criação pela Televisão de Catalunya-TV3, Canal 10 TV-Chiapas e pelo Centro Universitário de Estudios Cinematográficos da Universidad Nacional Autónoma de México. Na sua filmografia pessoal domina um olhar poético sobre a realidade mais próxima, a que acresce um discurso onírico marcado pela memória e pelo encontro com a antropologia. Seleções e prémios em vários festivais, mostras e exposições internacionais
 INTRODUÇÃO AO CINEMA – WORKSHOP  (*)
Resumo: O workshop apresentará uma visão particular do cinema relacionada com a arte e uma exposição do meu trabalho como realizador. Encontra-se organizado em dois momentos:
A) Origens. Montagem (Sergei Eisenstein). Poética da realidade (Luis  Buñuel). Profundidade (Ingmar Bergman), e o som e o absurdo (David Lynch).
B) Desde a ideia inicial até o produto final. Processos e métodos. Exemplos de    vídeos e documentários produzidos. Comentários e debate.

 

+ info. sobre cinematografia de Pau Pacual Galbis aqui

 

(*)  Ateliê recomendado para o público geral com conhecimentos básicos em linguagem e narrativa audiovisual, e especialmente indicado para aprofundar na realização e estética videográfica.

 

06.07.2019   |  09:30 | 11:15 Reitoria da Universidade da Madeira (Auditório)SESSÃO IX. FUNCHAL E MADEIRA COMO ESPAÇOS DE RECEÇÃO FÍLMICA

PROJEÇÃO FÍLMICA  + comentário por ELISABETE MARQUES SESSÃO VIII _ CINEMA-LITERATURA E MUNDO(S) EM REVIS(ITAÇ)ÃO 
Casa-Museu Frederico de Freitas,  Auditório  |  21:00 | 05.07.2019
 

VEREDAS

João César Monteiro, 1978 (120′)
Fragmento aqui
Sinopse: História da Branca-Flor – a partir de lendas e de figuras da mitologia popular. Raízes dum itinerário pelas origens naturais e paisagísticas, até ao coração de Portugal.
Os valores (água, nascimento, roda-da-vida), as figurações (o diabo, os lobos) e as referências (o senhor, a servidão), com um estigma de justiça inadiável…

[Fonte: José de Matos-Cruz, O Cais do Olhar, 1999, p.179]
Um percurso poético ao coração de Portugal. Eles eram dois. Um homem e uma mulher que se encontram e desceram de Trás-os-Montes até ao mar.
Lendas e penhascos, sons e rostos, terras e provações.
Eles eram dois, porque o homem não conhece percurso solitário.
Por este filme passa uma melopeia de um país que tem uma longa história de mais de oito séculos
apud CINEPT · CINEMA PORTUGUÊS aqui
06.07.2019   |  09:30 | 11:15 Reitoria da Universidade da Madeira (Auditório)
SESSÃO IX. FUNCHAL E MADEIRA COMO ESPAÇOS DE RECEÇÃO FÍLMICA

ANA SALGUEIRO
Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Universidade Católica Portuguesa, Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais, Plano Nacional de Cinema – Escola Secundária de Francisco Franco
Doutoranda em Estudos de Cultura na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (UCP), mestre em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e licenciada em LLM-Estudos Portugueses, por esta última faculdade. Atualmente é investigadora no Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da UCP e do Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais da Universidade da Madeira (UMa-CIERL). É a atual coordenadora da revista TRANSLOCAL, editada pelo UMa-CIERL em parceria com a CMF e, na Escola Secundária de Francisco Franco coordena o Plano Nacional de Cinema. Como investigadora, o seu trabalho, quer na área dos Estudos Literários, quer na área dos Estudos de Cultura, quer na área dos Estudos Insulares, tem-se ocupado sobretudo dos sistemas insulares da Macaronésia Lusófona. Assumindo preferencialmente enquadramentos interdisciplinares, aborda questões como: o exílio e a mobilidade humana, cultural e textual; as implicações entre cultura e poder; a relação entre fenómenos culturais, imaginários e fenómenos naturais; o papel do discurso artístico (literário e visual) e do discurso académico nas sociedades contemporâneas. Este trabalho tem sido apresentado em reuniões científicas e eventos culturais, encontrando-se publicado em livros, atas e publicações periódicas especializadas, nacionais e internacionais.
TRESLEITURAS CINEMATOGRÁFICAS: O CASO DA RECEÇÃO DE O FAUNO DAS MONTANHAS DE MANUEL LUIZ VIEIRA (1926, EMPREZA CINEGRÁFICA ATLÂNTIDA)
Resumo: A 8 de maio de 1926, o Diário de Notícia da Madeira publicava  a notícia intitulada “Cinematografia madeirense. Nova produção da Empreza Atlântida”, informando que “esta Empreza, de hábil direcção do sr. Manuel Luiz Vieira, est[ava] confecionando um novo film” de ficção com título O Fauno das Montanhas, cuja “acção, na sua maior parte [se passava] no Rabaçal, onde fo[ra] já feita a respetiva filmagem que durou quatro dias”. A tónica colocada no espaço cénico e de rodagem deste film madeirense, viria a assumir especial relevância na receção que colheu quer na ilha, quer em outros contextos nacionais e internacionais por onde circulou. Embora referindo o bom desempenho dos atores amadores, a extrema qualidade do trabalho de fotografia de Manuel Luiz Vieira, os gráceis “bailados das ninfas em redor  do «Fauno»” e do facto de “o seu entrecho não se[r] o daqueles dramalhões sugestivos”, as inúmeras críticas publicadas na imprensa regional após a estreia, no Teatro-Circo, de O Fauno das Montanhas em maio de 1927, destacavam a representação paisagística da Madeira (muito útil à sua propaganda turística), nas “scenas de um sugestivo encanto nas matas exuberantes do Rabaçal, a mais formosa estância da nossa ilha”. Procuraremos demonstrar como esta leitura do film (até hoje ainda por analisar em profundidade), e claramente vinculada a um registo cinematográfico paisagístico anteriormente realizado por Vieira na produtora Madeira Film, Ltdª, ignora os cruzamentos intersemióticos que o tecem, a inscrição que nele é feito quer do literário, quer do musical e do performativo, ou até o perfil autodidata deste enigmático realizador madeirense, dotado de uma cultura (cinematográfica) que em muito ultrapassou as fronteiras da ilha e de Portugal, assim como a cinefilia ‘tipicamente portuguesa’, a que muitas vezes surge associado.
 

PAULO MIGUEL RODRIGUES
Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos da Universidade de Coimbra, Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais da Universidade da Madeira
Doutorado em História Contemporânea pela Universidade da Madeira (UMa). Fez os seus estudos de Licenciatura em História (1992) e de Mestrado em História Contemporânea (1999) na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL). Actualmente é Professor Auxiliar de nomeação definitiva na UMa, onde leciona desde Janeiro de 1995. É Coordenador Científico do Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais (CIERL) e investigador do Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos (UC-CIEC). Especialista em História Contemporânea, com trabalho académico no âmbito da História política e institucional, em particular no estudo da Autonomia, do Turismo, das relações externas madeirenses e sua inserção na diplomacia portuguesa. O seu último livro publicado foi Estudos sobre o Século XIX na Madeira – Política, Economia e Migração (2015), prevendo-se para muito breve Teatro Municipal de Baltazar Dias (1888-2018) – 130 anos sobre o palco (2019).
“ASPECTOS DA PROJECÇÃO SOCIAL DO CINEMA NO TEATRO MUNICIPAL DO FUNCHAL (1928-1938)”
Resumo: O início da utilização regular do Teatro Municipal do Funchal enquanto sala cinematográfica teve lugar em finais de 1927 e coincidiu com a concessão da exploração do espaço a privados. Na verdade, foi a afirmação e o desenvolvimento da 7ª Arte que promoveu (resumiu?) tal interesse empresarial. A presente comunicação – que se deve entender no âmbito de uma investigação ainda em curso – tem três objectivos: (1) tentar aferir alguns dos aspectos e das características da realidade cinematográfica funchalense e, em particular, daquela que se projectou no então Teatro Municipal Dr. Manuel de Arriaga (TMMA), quanto aos géneros mais requisitados (uma dimensão descritiva, que permita criar uma base dados, com informação estatística, indicando, entre outros dados, a origem das fitas, as produtoras, os actores protagonistas e os realizadores); (2) a partir desta base, tentar perceber se a realidade do TMMA foi, por um lado, específica no quadro madeirense, e, por outro, o que dela se pode deduzir, quando comparada com outros centros (portugueses e europeus), tendo em consideração o que a caraterizou em diferentes momentos e/ou fases; (3) por último (mas na verdade o cerne da nossa investigação) tentar concluir sobre a projecção social da realidade cinematográfica apresentada no TMMA, isto é, por um lado, o que podem revelar (os filmes apresentados) sobre o público e a elite madeirense (e as suas eventuais expectativas e desejos cinematográficos) e, por outro, a partir do projectado, que influências transitaram (de um modo consciente ou não) para a sociedade funchalense/madeirense (ou que se pretendeu que transitassem). E tudo com um fito: contribuir para uma História Social da Madeira.
06.07.2019   |  15:00 | 16:45 | Universidade da Madeira (Sala de Sessões, Campus Universitário da Penteada)
SESSÃO XI. CRUZAMENTOS ENTRE ARTES
 

VÍTOR MAGALHÃES
Faculdade de Artes e Humanidades, Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais  e Conselho de Cultura da Universidade da Madeira
Professor Auxiliar na Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade da Madeira e Presidente do Conselho de Cultura da referida instituição. Leciona disciplinas nas áreas de Ciências da Arte, de Arte e de Desenho. Entre 2010 e 2013 e entre 2016 e 2017 foi Diretor da Licenciatura em Arte e Multimédia. Fez parte da equipa que acompanhou o processo de avaliação pela agência A3ES do referido curso, dando origem à atual Licenciatura em Artes Visuais (a partir do ano letivo de 2017-18), assim como a elaboração do respetivo Plano de Estudos. O enfoque principal da investigação que tem vindo a desenvolver situa-se nos pontos de contacto entre cinema, práticas experimentais e arte contemporânea, abordando as seguintes questões: o uso poético-reflexivo da interrupção enquanto mediador conceptual e crítico das imagens; os dispositivos trans-narrativos da imagem contemporânea; os processos de memória vinculados a uma metodologia arqueológica e crítica dos modos de representação; as relações paradoxais entre imagem e texto; e a praxis diagramática nas operações conceptuais de visualização e de pensamento.
COMO NÃO SAIR DE UM LABIRINTO? ESBOÇO PARA UMA TRILOGIA

Resumo: Três filmes experimentais dos anos 70 examinam a relação entre literatura e cinema de uma forma radicalmente literal, mas paradoxalmente descontínua. São eles Reading of an extract from labyrinths by j.l. Borges, de David Lamelas; La celosía, de Valcárcel Medina; e Poetic Justice, de Hollis Frampton. Estas obras formam uma trilogia involuntária através da qual se desdobram diversos tópicos que serão discutidos nesta comunicação, como sejam: duração, texto, leitura, imagem, olhar, voyeurismo, narração, desejo.
 

JOSÉ DIAS
Manchester Metropolitan  University, North West Film Archive
Senior Lecturer in Music na Manchester Metropolitan University, investigador, músico e compositor. Tem desenvolvido investigação sobre jazz na Europa, as relações entre práticas musicais, participação, identidade cultural e políticas culturais europeias, de que resultou o seu livro Jazz in Europe: Networking and Negotiating Identities (Bloomsbury, 2019). Colabora, como observador e consultor, com diversos festivais de jazz europeus. Paralelamente, lidera um grupo de investigação em música para media, de que faz parte um projeto de practice-as-research em performance de música improvisada para cinema mudo. Tem sido autor e co-autor de diversos outputs, nomeadamente, livros, capítulos, artigos e documentários. José Dias tem também atuado e gravado internacionalmente com numerosos artistas da área do jazz e da música improvisada. Tem composto para cinema de animação, teatro e dança contemporânea.
FAÇAM O QUE FIZEREM, NÃO CONTEM UMA HISTÓRIA: A IMPROVISAÇÃO NO PROCESSO CRIATIVO MUSICAL, CINEMATOGRÁFICO E LITERÁRIO
Resumo: Todas as nossas ações são improvisadas. Desde as nossas conversas quotidianas às tarefas programadas, as opções que perante elas tomamos são fruto de um processo mais ou menos elaborado de improvisação. O processo criativo resulta sempre de uma sequência de tentativas e erro – sendo este último, muitas das vezes, assimilado enquanto parte integrante de um novo conceito. A música, o cinema e a literatura partilham características e ferramentas primordiais, como a narratividade, a textura, o ritmo, a tensão, o repouso. E a dinâmica que ativa a interação entre esses elementos assenta em processos de improvisação.  Nesta conversa e oficina, serão explorados, numa primeira parte, os contextos históricos e teóricos relativos à improvisação na música para cinema e a sua relação com a literatura, a partir da audição, visualização e análise crítica de exemplos musicais, cinematográficos e literários. Numa segunda parte, os participantes serão convidados a assistir e tomar parte numa seleção breve de exercícios de improvisação musical e/ou expressiva para excertos de filmes mudos.
PROJEÇÃO FÍLMICA  Screenings Funchal |  SESSÃO XII _ CINEMA-LITERATURA
Screenings Funchal | Cinemas NOS  Forum Madeira |  21:00 | 06.07.2019

A PORTUGUESA

Rita Azevedo Gomes, 138′ (2018),
trailer aqui
Sinopse: ” «A Portuguesa», o novo filme Rita Azevedo Gomes, parte de uma novela de Robert Musil, com adaptação cinematográfica de Agustina Bessa-Luís — No norte de Itália, século XVI, rente à assinatura de paz do Concílio de Trento, o filme trata da estranha união entre uma enigmática Portuguesa e o seu marido, von Ketten, um nobre de ascendência germânica. Seleccionado para vários festivais internacionais, destacando-se a Selecção Oficial da Secção Forum, na Berlinale 2019.
“(…) Uma novela de Robert Musil adaptada para guião cinematográfico pela grande senhora da literatura moderna portuguesa Agustina Bessa-Luís, num filme, que é sensual como poucos na cultura actual das imagens em movimento, uma criação meticulosamente elaborada, de cores sedutoras, linhas firmes e espaços claramente concebidos em que a precisão faz do menor gesto uma explosão de expressividade — puro esplendor, elevada matéria para os olhos e ouvidos. Nas mãos de Rita Azevedo Gomes.” (Olaf Möller, crítico e programador de cinema)”
Apud, medeiafilmes. Dossier de imprensa  aqui:   http://medeiafilmes.com/filmes/ver/filme/a-portuguesa/
CINE-CONCERTO |  SESSÃO XIV _ MÚSICA EM REVISITAÇÃO DO CINEMA MUDO
Casa da Cultura de Santa Cruz/Quinta do Revoredo |   18:00 | 07.07.2019
 

SUNRISE: A SONG OF TWOHUMANS

F. W. Murnau, 115′ (1927)

com música de:

Adam Fairhall

Francisco Andrade

Jorge Maggiore

José Dias

 

Sinopse: Procurando recuperar a experiência da receção fílmica do período do cinema mudo, este cine-concerto reúne na Casa da Cultura de Santa Cruz, a exibição do filme SUNRISE. A SONG OF TWO HUMANS [Aurora], sendo este acompanhado pela improvisação/interpretação musical ao vivo de Adam Fairhall , Francisco ANdrade, Jorge Maggiore e José Dias.
«Aurora» foi a primeiro longa que F.W. Murnau (realizador alemão, então a trabalhar já nos EUA), com roteiro escrito por Carl Mayer (parceiro de Murnau desde «O Corcunda e a Dançarina«, 1920) e baseado em «Viagem a Tilsit» do escritor alemão Hermann Sudermann.
Recebido, à época, com estrondoso sucesso, «Aurora» foi um dos filmes pioneiros no uso de som gravado direto em película + sons do ambiente e vozes (sem diálogos), um esforço que colocava Murnau não só à frente da experimentação do som com imagens em forma de filme (sobreposição de takes em câmera e montagem), mas também como um dos primeiros diretores a assinar um longa metragem de grande orçamento, com grande distribuição e que trazia a novidade do som consigo, aqui, realizado através do processo ‘Movietone’, da Fox.
Estreado em Nova Iorque em 1927, SUNRISE só em 1929 viria a ser estreado em Lisboa, e, no Funchal, a 03.01.1930… aqui, também com uma receção clamorosa, que levou ao Teatro Municipal Dr. Manuel de Arriaga enchentes em 3 dias sucessivos… A demora da passagem do filme por Portugal e pelo Funchal, de acordo com Paulo Miguel Rodrigues, não terá sido alheia à situação política vivida no país depois da “Revolução de Maio” de 1926, e do traço ousado que a Ditadura Militar encontraria no enredo e em alguns planos do fiilme
O Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira disponibiliza desde há algum tempo a digitalização de um dos jornais da altura (o «Diário de Notícias» do Funchal), onde podemos conhecer o modo como o filme foi então recebido na Madeira; aquiaqui
13. 07.2019   |  15:00 | 18:00 | Universidade da Madeira (Sala 17, Campus Universitário da Penteada)
SESSÃO EXTRA – UMA ABELHA NA CHUVA
UMA ABELHA NA CHUVA: UM ROMANCE E UM FILME
Sinopse: Ao longo da sessão, os formandos serão convidados a reler a obra de Carlos de Oliveira (romance e poesia), cruzando-a com o discurso fílmico de Fernando Lopes, discutindo o conceito e o processo de adaptação fílmica de Uma Abelha na Chuva, num período em que quer o(s) Neorrealismo(s), quer o Cinema Português se reinventavam.

 

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